Muita gente ainda acha que estrutura de aço é sinônimo de obra cara e com jeito comercial. Arquitetos contam aqui as vantagens de optar por esse sistema, que pode render belas construções, com custo viável e tempo reduzido.
Aço aparente quase sempre é associado à arquitetura contemporânea. “Apesar de muitas vezes denotar traços da modernidade, na Inglaterra, por exemplo, o sistema existe há cerca de 200 anos”, afirma o engenheiro João Alfredo Pitta, professor da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade Federal de São Carlos (UFscar), no interior de São Paulo. No Brasil, os primeiros exemplares surgiram nas duas últimas décadas do século 19. Mas, até hoje, a estrutura metálica está envolvida em uma série de mitos.
É caro construir com aço?
“Ele não é, em princípio, um material mais ou menos caro, se comparado a outros métodos construtivos”, diz Pitta. O preço está diretamente relacionado ao projeto arquitetônico. A dimensão da obra e, principalmente, o seu peso influenciam o custo final, uma vez que o aço é vendido por quilo. João Diniz, arquiteto de Belo Horizonte, explica que se houver adequação total dos materiais empregados na construção, o uso do ferro pode até significar economia. É possível planejar obras mais leves, que baixam o peso da estrutura e, conseqüentemente, o seu preço. “Tirar proveito dos benefícios oferecidos pelo sistema é o segredo para se obter uma bela arquitetura e também economizar em itens que, se mal programados, acarretam maior investimento”, defende o arquiteto Eduardo de Almeida, de São Paulo.
Ele é vulnerável à ferrugem?
Esse poderia ser um empecilho para construções com aço no litoral. É verdade que o material pede alguns cuidados específicos, mas, respeitadas as orientações dos especialistas, não há por que se preocupar. “Embora as peças cheguem à obra com protetor de uso industrial, aconselha-se a aplicação de outros produtos isolantes antes da pintura”, diz Almeida. Se a opção recair sobre perfis sem tinta, o mercado oferece em escala comercial o chamado aço patinável, ou cortem (quadro à dir.). “Previamente oxidado, ele não impõe limites quanto à localização da obra”, completa. O arquiteto George Mills, de São Paulo, já empregou estrutura metálica em casas na cidade, no campo e na praia – e também não vê restrições no uso. “Existem mais pontos positivos do que negativos nesse método construtivo”, enfatiza, acrescentando: “A rapidez na montagem da estrutura é o aspecto mais interessante a ser destacado. Isso serve até para acalmar a ansiedade de quem está pagando a obra. Se a pessoa optasse pela técnica convencional, precisaria aguardar meses para ver o esqueleto pronto”, diz.
Restringe o emprego de outros materiais?
A arquiteta paulista Cláudia Haguiara lembra que nada impede a utilização de outros recursos em conjunto com o aço. “Lajes pré-moldadas ou maciças, assim como paredes de tijolos convencionais, blocos celulares ou placas de gesso, são algumas alternativas”, sugere. Qualquer que seja a opção, entretanto, é fundamental que o profissional responsável pelo projeto defina bem o tipo de amarração entre a estrutura e o fechamento das paredes e dos pisos. “Esse fator é condicionante no que se refere à vida útil dessas superfícies, já que podem sofrer infiltrações e rachaduras devido à movimentação natural do aço”, alerta.
Aço patinável, ou cortem.
Em sua composição há uma liga que isola a primeira camada do metal em relação às demais. “Isso evita que o oxigênio entre em contato com os níveis mais profundos da estrutura, impedindo a ação causada pela maresia e pelo excesso de umidade”, explica o engenheiro Gilmar Gilioti, da empresa Poliaço. Assim, mesmo que a ferrugem apareça depois de algum tempo, se limitará à superfície do metal, resguardando a ação estrutural dos pilares e das vigas. O único inconveniente é que os perfis precisam ser mais espessos – portanto, mais pesados e caros.
Vantagens
Prazos curtos: o tempo de fabricação médio das peças é de 30 dias e o da montagem, de uma semana a 15 dias. Exemplo: uma casa de 300 m² leva cerca de uma semana para ser montada. Uma de concreto, em torno de três meses.
Racionalização de material e mão-de-obra: o sistema industrializado evita desperdício e requer menos operários.
Confecção de trabalhos em paralelo: enquanto se fazem as fundações, as peças metálicas estão sendo fabricadas.
Obra limpa e organizada: sem depósitos de cimento, areia, madeira e ferragens, o entulho é menor.
Flexibilidade de reformas: é possível incorporar novos elementos metálicos.
Maior área útil e distância entre vãos: os pilares e as vigas são mais delgados do que os equivalentes de concreto. Ou seja, a área interna aumenta e a distância entre os pilares também.
Possibilidade de reciclagem: o aço tem alto valor de revenda e pode ser derretido para a confecção de outras peças.
Desvantagens
Risco de custos maiores: se o projeto não levar em conta todos os itens da construção, o preço pode ser de 5 a 20% maior se comparado ao processo tradicional.
Pouco indicado em construção pequena: como se trata de uma estrutura industrial, não se justifica economicamente a encomenda de poucas peças.
Dificuldade de transporte: a locomoção é mais complicada em locais ermos ou cidades distantes de centros urbanos.
Desembolso em curto espaço de tempo: como os prazos são pequenos, o dinheiro tem que estar disponível.
Necessidade de amarração: a estrutura de aço necessita de perfis complementares para se unir às superfícies de fechamento.
Contração e dilatação constantes: se essa movimentação característica do aço não for respeitada, podem surgir trincas nas paredes e nos pisos. Deve-se respeitar as especificações de projeto: se ele determinar paredes de tijolos, não é aconselhável usar blocos, por exemplo.
Precisão é fundamental
Planejar cada detalhe da estrutura de aço e seus desdobramentos pode levar meses. Após a definição do tamanho da construção, a planta é desenhada pelo arquiteto e, só então, encaminhada para um engenheiro calculista, especializado no material. “Ele estudará minuciosamente o peso total da obra, a espessura e a dimensão das peças e dos encaixes, além da junção entre a estrutura, as paredes e os pisos”, ensina o arquiteto Arnaldo Martino, de São Paulo. Concluída essa etapa, o projeto é entregue à fábrica. O próprio fabricante monta o esqueleto no local, geralmente usando apenas um pequeno guindaste preso ao caminhão da empresa. “As peças costumam ser descarregadas no canteiro e a estrutura, erguida imediatamente”, diz Martino. A união dos perfis é feita por meio de parafusos ou soldas.
Fonte: casa.abril.com.br (21 de outubro de 2010)